American Beauty

Os tipos podem ser observados por todo o planeta. E são tão óbvios que passam desapercebidos dentro da medíocre normalidade. Mas eles dominam a paisagem da sociedade desenvolvida: tem diplomas universitários, casas ou apartamentos que decoram para impressionar, carros do ano, todas as parafernálias eletrônicas que as prestações podem comprar, empregos que os mantém ocupados e cansados, filhos também ocupados com cursos de balé, de línguas, de informática, de judô. Seus jardins são bem cuidados, seus carros sempre brilhando, seus sorrisos "Colgate" sempre reluzindo nas festas e encontros sociais.

Mas atrás da cortina, o que ninguém vê é a realidade triste: empregos tediosos e insatisfatórios que não podem ser abandonados porque sem eles, quem vai pagar a prestação da casa ou apartamento; além de todos os cursos e vantagens do Junior e a empetecação dos bens materiais? A família bonitinha é sustentada apenas pelas aparências. A mulher é frustrada por suas mil e uma razões, o homem é frustrado por suas mil e duas razões e os filhos estão entre a boçalidade e a revolta.

Quem já não ouviu a estória do sujeito pertencente a esse grupo social estagnado no materialismo que de um minuto para o outro chuta o pau da barraca e parte para uma vida mais significativa, buscando outro tipo de realização pessoal ou simplesmente ‘ser feliz’?

American Beauty transporta o enredo cotidiano dessa classe média para as telas do cinema, enfocando a vida aparentemente perfeita de uma família típica dos subúrbios americanos. O sonho da casa espaçosa, com jardim, quintal, vizinhos amigáveis, carros novinhos na garagem, filhos contentes na escola, o emprego na cidade e vida feliz e tranquila é desfeito logo nas primeiras cenas do filme do diretor inglês Sam Mendes.

Lester Burnham (Kevin Spacey) narra e protagoniza o filme, contando com crueza os fatos de sua patética existência, que irá começar a mudar radicalmente e assim culminar com a sua morte, já prevista e anunciada. Sua primeira cena, acordando numa cama vazia e masturbando-se no chuveiro (o ‘ponto alto’ do seu dia, ele nos diz), nos faz sorrir amarelo pois já sabemos que o que iremos testemunhar será tragicômico.

Lester tem um emprego monótono que ele detesta, uma esposa (Annette Bening) muito ocupada com seu emprego de agente imobiliária e seus cuidados com o jardim, para notar que ele existe; uma filha (Thora Birch) distante e ausente, uma casa grande no subúrbio e seus sonhos todos anestesiados, numa total incapacidade de reação.

Seus vizinhos da direita são Jim e Jim – um casal gay aparentemente feliz. Os vizinhos da esquerda acabaram de mudar-se e são um ex-oficial da Marinha americana (Chris Cooper), sua esposa catatônica (Allison Janney) e seu filho estranho (Wes Bentley).

A vida é uma repetição das frustrações e vazios diários até que um dia Lester conhece uma amiga da sua filha (a belíssima Mena Suvari), torna-se obsessivo com a possibilidade de conquistá-la e começa um revertério na sua aparentemente imutável vida comum.

American Beauty já está sendo comentado como um filme que terá muitas indicações para o Oscar deste ano. Não só pelo brilhantismo da estória – que consegue captar, resumir e escancarar essa ‘anormalidade’ tão particular e quase imperceptível da vida cotidiana da classe média - como também pelo desempenho impecável dos atores. Kevin Spacey e Annette Bening estão perfeitos como protagonistas do drama suburbano de American Beauty. E a revelação do filme (tem sempre que haver uma, não?) é o ator Wes Bentley, que com certeza vai ser visto em muitos filmes daqui para frente. Bentley é jovem, talentoso e tem um rosto expressivo que ainda vai dar muito o que falar.

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