Este é um país musical, folks!



Quem foi que disse que no Canadá só tem gelo, ursos, Mounties e Aurora Boreal?


Ouvindo o rádio, assistindo a MTV ou encaroçando numa loja de música, nunca pensamos que podemos estar expostos ao talento musical daquele povo que vive na terra do gelo: os canadenses. Parece que tudo que chega até nós, com algumas exceções, vem da terra do tio Sam. Na maioria das vezes esta é a verdade. Mas não nos deixemos enganar, porque há muito canuck infiltrado aqui e acolá. Vamos tentar analisar este fenômeno: estarão esses Esquimós tentando subverter a ordem estabelecida? Veremos.

O Canadá é um país de território imenso, com uma população pequena, uma política bilíngüe e totalmente multicultural. Está imerso num clima polar que possibilita o desenvolvimento artístico em todas as modalidades, pois pelo menos seis meses durante o ano todos ficam confinados em seus quartos, basements e garagens. Nunca conheci tanto artista plástico em toda a minha vida. Na parte musical então e inacreditável a quantidade de bandas alternativas que circulam de leste a oeste, fazendo shows em todos os pequenos barzinhos e pubs distribuídos pelo país.

Claro que um pouco de todo esse fluxo musical acaba um dia aportando em New York ou Los Angeles, e cada vez mais vemos os canadenses conquistando a "América", e se destacando no cenário musical internacional. A tática de praxe adotada pelas gravadoras e lançar os canuks primeiro na Austrália (que se eles bombarem lá ninguém fica sabendo) e depois marcar uma turnê pela Europa. Se depois disso nada acontecer eles voltam pra casa e se contentam em serem famosos por aqui. Mas se um incêndio acontecer, uma turnê pelos EUA e imediatamente solicitada e daí para frente é batalhar para tomar os yankees de surpresa.

Quem são eles!?

Entre os que fizeram o percurso e se deram bem estão Neil Young e Leonard Cohen, dois monstros sagrados do Rock And Roll, que estão merecidamente encabeçando esta lista. Harvest Moon e Mirror Ball do Neil Young, e I Am Your Man e The Future do Cohen devem fazer parte da estrutura básica da sua estante de discos. Outros nomes, como Robbie Robertson and The Band, Rush, Tom Cochrane e k.d.lang também podem divagar pela constelação dos clássicos. As novidades, que pipocam daqui e dali todos os dias e vão penetrando nossos sensos pelo radio e tv, são muitas. Para facilitar a descrição, vou coloca-los separados por limitações geográficas. Pra começar vem o pessoal do Leste:

Moxy Fruvous é uma troupe de musicos-cômicos e funciona melhor no palco que em disco. Na música deles dá para notar um pouco da influência francofônica do lado Atlântico. Apesar de não serem quebecoirs, eles cantam alguns números em francês.

Rainbow Butt Monkeys não é só "mais uma banda alternativa". Depois de quase perder um dente dançando no show deles, posso dizer que os caras têm peso. Uma das melhores musicas tocando na Much Music (a MTV Canadian) e How Far Can I Spitt.

Ashley MacIsaac é um demônio tocando violino! O melhor exemplo é o seu novo vídeo clipe, The Devil In The Kitchen, que faz você sair pulando pela sala. Popular por suas interpretações de "Square Dance Songs", MacIsaac está lançando seu álbum Hi, How Are You Today nos EUA. Estará também abrindo os shows de Melissa Etheridge, na próxima tour canadense da artista.

One prova que em terra de branquelo também se faz bom reggae...Uma banda que está sempre em turnê pelo país e que tem um dos shows mais dançantes que já vi passar por aqui.

Sarah McLachlan é às vezes comparada com Tori Amos, mas eu digo que ela é muito melhor. Delicada, com canções poéticas e envolventes, Sarah não tem similares por aí.

Barenaked Ladies acabou de lançar um álbum novo: Born To Be a Pirate Ship. Eles têm um repertorio temperado com boas doses de humor (sem ficar besteirol). Arrasam com Be My Yoko Ono, do álbum Gordon. Compre se tiver a oportunidade, porque e neste trabalho que eles estão mais "barenakeds"!

Bass is Base é uma banda nova, mas tem um trabalho interessante misturando R&B/Soul e Funk.

The Tea Party é a reencarnação do Jim Morrison e The Doors, com um trabalho musical exótico e sofisticado e letras de pura poesia...pra derreter os corações das trintonas.

Crash Test Dummies são aqueles de Superman's Song, que tem aquele vocalista de voz gutural, o Brad Roberts. O melhor disco deles é o segundo, God Shuffled His Feet, mas o primeiro, The Ghosts That Haunt Me também merece fazer parte da sua eclética discoteca.

Cowboys Junkies já estão na estrada ha muito tempo. É claro que todos já ouviram a regravação que eles fizeram de Sweet Jane, do Lou Reed, que tocou em Natural Born Killers, não?


Claro que estar próximo de Seattle ajuda bastante, mas Vancouver lidera como a cidade dos alternativos bem sucedidos. Do Oeste saíram para o mundo:

Spirit of the West é uma banda de Vancouver que tem experienciado enorme sucesso por todo o Canadá. Eles cativam fãs com músicas bem humoradas, e toques de conscientização política e ambiental.

Rheostatic é outra banda extremamente cool vinda do Pacífico. É deles a trilha sonora de Whale Music (1994), um filme do cineasta canadense Richard Lewis que você precisa encomendar para a sua locadora urgentemente.

Moist lançou seu primeiro álbum, Silver em 1994 e tem se mostrado uma banda super promissora. Eles estiveram aqui, mas damn, eu não pude ir vê-los....

Salvador Dream esgueira-se pelo underground de Vancouver. Eles são bons que doem, lembrando um pouco o Living Color, mas com um algo mais. Só que eles não tocam em lugar nenhum, nem na Much Music e se você não comprar os discos deles por catálogo, vai ter que escarafunchar nas lojas de discos usados. A melhor banda, com o pior manager...


Aqui nas prairies, onde estou, o pessoal não pensa só em plantar trigo e dirigir o trator pra lá e pra cá. Não e bem assim, viu:

The Waltons vieram de Regina, a capital de Saskatchewan e têm uma música que mistura singelo com sensual. Os video clip deles são uma delicia de assistir e como todo bom filho pródigo, eles estão sempre retornando à casa paterna e fazendo shows por aqui.

Educated Guess é um quinteto Pop-Rock.O vocalista Paul Dasiuk é a cara do Mick Jagger (mocinho, claro) e igualmente carismático. Os shows são contagiantes. Uma das bandas mais promissoras da região.

Loreena Mckennet é uma figura que parece ter saído de um quadro de Boticelli. Ela toca, entre outros instrumentos, a harpa e cria atmosferas musicais fantásticas. Por isso foi escolhida para fazer a trilha sonora do documentário Burning Times (1990), que conta a história da perseguição às "bruxas" da idade média. Uma viagem!


Bom, para não deixar nenhuma região de fora, tenho que citar a Susan Aglukark, que é filha de índios Inuit (espécie de Esquimó), que vivem nos territórios gelados do norte. Ela tem um álbum novo, This Child, onde canta as tradições do povo dela. Mas Susan não caí na armadilha do folk e apresenta músicas dançantes e com muito ritmo de tambores e melodias mitológicas. Os vídeos clipes são um tesouro, mostrando a cultura Inuit e ate uma inesquecível dança do gelo.




| Fezoca Online | Cinema | Música | Crônicas | Links |