Eyes Wide Shut



Por mais de duas horas eu tentei, tentei com toda a minha vontade, gostar do último filme do cineasta Stanley Kubrick – Eyes Wide Shut, mas acabei sucumbindo aos meus instintos e assisti o resto do filme com os pés no chão e a certeza de que nem sempre um artista de sucesso faz filmes de sucesso.

Kubrick, que encantou o mundo com seu 2001: A Space Odissey e depois fez tantos filmes que marcaram a história do cinema, morreu sem ver seu último filme chegar as grandes telas. Talvez seja por isso que a mídia propagou tanto o filme como ‘obra-prima’ e festejou os mistérios e intrigas da saga de Eyes Wide Shut.

Tom Cruise e Nicole Kidman apostaram um ano de suas vidas e carreiras, para dedicarem-se às filmagens da história de um casal bem sucedido (ele um médico, ela uma curadora de arte) que entra numa crise de descobertas e explorações de sua sexualidade. O médico Willian Harford e sua esposa Alice Harford levam uma vida charmosa, num casamento aparentemente perfeito que já dura nove anos, até o dia que numa discussão sobre ‘por que os homens querem fazer sexo com uma mulher bonita’, a esposa conta ao marido um segredo de desejos e fantasias, que muda as perspectivas sexuais da vida do casal.

A partir daí embarcamos junto com Dr. Bill numa viagem pelas ruas sujas de New York, suas prostitutas, suas armadilhas, que culmina com uma passagem Felliniana por uma orgia e as conseqüências misteriosas de sua experiência de voyeur sexual. O final é imprevisível, mas fecha perfeitamente – sem muito nexo, uma história que pode ser encarada como um quebra-cabeças sexo-surrealista.

Eu não gostei de Eyes Wide Shut – não gostei da história, não gostei da interpretação do Cruise e da Kidman (com exceção da cena onde ela conta sua fantasia ao marido, que é belíssima e que mostra que Nicole Kidman pode ser uma grande atriz quando o apelo dramático da personagem permite), odiei a trilha sonora (um som enervante de teclas de piano sendo marteladas incessantemente, procurando produzir um clima de suspense), achei que quase toda a nudez do filme foi gratuita, o episódio da orgia estava fora de contexto e havia muitos diálogos e cenas cliches. Saí do cinema decepcionada e irritada. Os críticos nas publicações ‘mainstream’ estavam aclamando o filme, mas o público não teve a mesma reação. Eu li muitas opiniões como a minha nos sites, forums e chats na Internet.

Algumas curiosidades sobre o filme:

A famosa cena do espelho, com Nicole Kidman e Tom Cruise , mostra apenas o corpo nú dela. Mr. Cruise só mostra o tórax bem torneadinho. A cena – que foi comentadíssima, é bem rápida e não mostra a intimidade entre o casal que a mídia esta propagandeando.

O Brasil vai ver a versão integral do filme, sem censura. Os americanos e os canadenses (incluindo eu, que faço parte da demografia) viram uma versão censurada com imagens digitais, que cobrem a verdadeira ‘ação’ nas cenas da orgia. Se eu não soubesse das modificações, nem teria percebido nada, pois essa foi uma censura delicada – um oposto daquelas bolinhas saltitantes que tivemos que engolir na versão brasileira de A Clockwork Orange, na década de 80.

A decoração do apartamento do casal no filme, contou com a ajuda de Nicole Kidman, que colocou nos cenários artigos da vida real dela e Cruise, dando um toque pessoal e íntimo ao filme. É bem notório que o apartamento do filme tem vida, como uma casa real, com bagunça, objetos de uso diário e pequenos detalhes que fogem do típico cenário estilizado e esterelizado dos filmes. A Lingerie que Nicole Kidman usa no filme também foi uma escolha pessoal. É bem simples, algo mais para Calvin Klein que para Victoria Secret.

Comentam-se aqui, que o fato da Nicole Kidman ter aparecido nua em várias poses no filme e também por estar em várias capas de revistas em roupas mínimas, é uma jogada de marketing, para ver se levanta a popularidade dela, que nunca alcançou o nível de Tom Cruise. Segundo as más línguas, ela quer com essa peladonice toda, chegar perto de Julia Roberts, no ranking da popularidade e das atrizes mais bem pagas.

Como num jogo de concentração, reparem num erro de continuidade cometido numa cena. Pode ter sido pelo tempo extenso de filmagens e edição, mas na cena que o Tom Cruise vai visitar um cliente que acabou de morrer e ele anda por um corredor antes de bater na porta do quarto. Entre a porta tem duas mesinhas, com uma escultura pequena em cada. Mais tarde, quando o noivo da filha do morto chega e anda pelo mesmo corredor, antes de bater na mesma porta, uma das estatuetas está faltando. A primeira mesinha está vazia.... a estatua cinza não está mais lá. Nem um filme de um mestre como Kubrick pode ser perfeito!




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