The Original Kings of Comedy



Um show com quatro comediantes negros se apresentava por todo os Estados Unidos, lotava estádios pelas cidades por onde passava, virou um cult com fãs seguindo a troupe de estado em estado, se tornou uma das turnês de comédia mais lucrativa dos últimos anos e mesmo assim nós não estávamos sabendo de todo esse sucesso dos Kings of Comedy. O produtor Walter Latham apareceu com a idéia e Spike Lee a colocou em pratica, trazendo assim para nós, plebe desinformada, um pequeno presente na forma de documentário: The Original Kings of Comedy, apresentando Steve Harvey, D L Hughley, Cedric the Entertainer e Bernie Mac.

Em dois dias, usando três câmeras digitais e filmando os artistas no palco e bastidores e a platéia em detalhes, Spike Lee e sua equipe capturaram as imagens do show lotado dos Kings of Comedy no Charlotte Coliseum, em Charlotte - North Carolina. A audiência, predominantemente negra, deita e rola, ri e grita, pula e dança, participa e se emociona. E também nós, na sala do cinema, pois o show desses comediantes é completamente envolvente, contagiante e, acima de tudo, hilário.

A presença de algumas caras brancas na platéia propicia a oportunidade para os comediantes fazerem suas piadas sobre as diferenças entre brancos e negros. Steve Harvey (que também faz as vezes de mestre de cerimônias no show) detona as primeiras gargalhadas da platéia quando comenta sobre o filme Titanic e como nunca haveria um filme sobre aquele acidente, se a população do navio fosse negra. Para Harvey, se a banda que tocou ininterruptamente enquanto o navio afundava fosse negra, o desenrolar da história teria sido completamente diferente, com todos da banda correndo para salvar o equipamento e a própria pele! Steve Harvey brinca com a platéia nos intervalos entre a performance de um comediante e outro e fecha a sua participação com uma apologia à música negra dos anos 70, criticando os rappers e hip-hopers. É quando a platéia se levanta, cantando junto de braços levantados. Uma apoteose de divertimento.

D L Hughley, que parece o mais jovem dos quatro comediantes, faz uma apresentação gostosa e engraçada. Cedric The Entertainer dança, comenta porque nunca iremos ter um presidente negro ( 'Clinton é o mais próximo que nós vamos chegar da Presidência!') e faz uma imitação impagável de um negro dirigindo um carro dos anos 70 até a lua, que nos deixa chorando e fungando de tanto riso.

Mas é Bernie Mac - o último a se apresentar - o mais impressionante comediante do grupo. Mac tem um rosto quadrado, com expressões rudes e olhos demoníacos. Sua voz é quase gritada e sua pronuncia rápida e uso de palavrões a cada duas palavras, faz seu discurso soar como uma metralhadora giratória. Sua descrição cruel da convivência com seus três sobrinhos (que ele e o irmão dividem a custódia, devido aos problemas com drogas da mãe das crianças - 'e quem aqui que não tem um membro na família com problemas com drogas?', ele pergunta secamente à platéia) e do seus planos de abrir uma creche são de um humor negro incomparável. E sua apresentação termina com uma breve explicação gramatical do significado do termo 'motherfucker', tão usado entre os negros. Neste ponto já estamos de barriga doendo de tanto nos dobrar de rir.

E assim vamos durante todo o documentário - rimos de piadas raciais (Hughley: 'se você diz que não é um racista porque você já recebeu três negros na sua casa, você É um racista desgraçado!'), de tensões no ambiente de trabalho, sobre 'ser pobre', funerais, esportes, crianças na igreja, Deus, e todas as pequenas coisas mundanas, entre elas a constatação de que anorexia não é doença de negro. 'Branco fica anoréxico. Negro fica desempregado….'. Muitos aplausos para os Originais Reis da Comédia!




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