The Town & The City



Admito que minhas blurbs literárias não são o fino da bossa, mas vou arriscar comentar outro livro que eu acabei de ler - The Town & The City, do Jack Kerouac.

Esse foi o primeiro livro de Kerouac, escrito sete anos antes do seu romance mais famoso, On The Road. Eu sinceramente sempre achei que On The Road tivesse sido o primeiro livro dele – aquele que foi datilografado num rolo. Mas o calhamaço de quinhentas páginas, The Town & The City, foi na verdade o primeiro. Eu li On The Road no inicio da década de 80 e não me lembro de muitos detalhes, com exceção de pequenas passagens. Mas achei que esses dois primeiros romances de Kerouac têm atmosferas diferentes.

The Town & The City é um livro gostoso de ler. Primeiro porque é Jack Kerouac. Também porque é um retrato de uma época – os anos 40. Relata a história de uma família típica de americanos que vive numa pequena cidade em New Hampshire [a mãe de família franco-canadense – como a família de Kerouac]. O pai, dono de uma gráfica, a mãe dona-de-casa e os sete filhos. Na primeira parte do livro, o autor descreve todos os membros da família. Cada pequeno capítulo sob a perspectiva de um deles. Com o desenrolar da trama, ele parece esquecer de alguns dos personagens e se concentra em apenas cinco – pai, filha mais nova e três filhos. Lá pro meio do livro some quase todo mundo e com o evento da Segunda Guerra Mundial, ficamos restritos à apenas dois dos irmãos e em certo ponto à apenas um. Eu senti falta de saber o que aconteceu com as irmãs, que só reaparecem no final do livro. Senti que Kerouac se concentrou muito nos personagens masculinos. Bom, se você vai escrever sobre a saga de uma família e começa falando de todos, deveria continuar assim por todo o livro e não simplesmente ‘esquecer’ de uns e outros, não? [Santa empáfia! Eu criticando Jack Kerouac – ainda vou queimar no fogo do inferno por isso!!]

Mas o interessante em The Town & The City é justamente a apologia que o escritor faz da vida simples na cidade pequena. Quando a família – ou melhor, parte dela – muda-se de Galloway – New Hampshire, para o Brooklyn – New York, tudo fica sombrio e depressivo e despenca numa decadência angustiante. Eles relembram os bons tempos, passados na grande casa na pequena cidade do interior, com a família rodeada de amigos e em clima de paz. O final da guerra traz de volta alguns dos personagens, carregados de desilusão e amargura. A terapia recomendada por Kerouac para a reflexão? A pescaria.

Apesar de ter achado o livro muito cheio de descrições e de ter sentindo falta de um desenvolvimento mais justo das personagens femininas, eu li The Town & The City com prazer e até chorei no final, como se deve fazer em romances como este.






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